"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Do Império Celta ao Império Assírio III

Os reis da Assíria dominavam na Babilônia, e sua capital, Nínive, recebia os presentes de todo o vale do Eufrates. Já a Assíria sufocava deles: recomeçara a luta pela posse dos mercados  da Síria, marcada por alternativas de guerras e alianças.

Os soberanos assírios humilhavam os povos vizinhos, rompiam as coalizões, destruíam as aldeias hostis. Em -877, um deles, renovando nas águas do Mediterrâneo o gesto tradicional que simbolizava sua vitória, molhou nelas suas armas ao sul do Oronte. Os tributos de Israel, de Tiro e Sídon afluíram para a escolta real.


Arqueiros assírios. Palácio de Nimrud

Seu sucessor, Salmanazar III, levou a guerra de Damasco ao lago de Van e se atirou contra os medos, clãs arianos que no Irã haviam ficado tão atrasados a ponto de cortarem ainda as rodas de suas carroças em troncos de árvores. Os medos por sua vez pagavam tributo e enviavam ao rei da Assíria seus belos cães amestrados. A guerra se transformava na indústria nacional dos assírios.

Somente a guerra manteve o contato entre esse Oriente convulso e o mundo mediterrânico em que pequenos Estados se organizavam, demasiado frágeis para tentarem restringir as ambições do novo déspota oriental.

Um conflito permanente, aliás, retardava a evolução da Grécia: os dórios haviam-na conquistado aldeia por aldeia e formado nela, por vários sítios, comunidades militares mais ou menos fortes segundo o grau de resistência dos aqueus. Para os dórios, governar limitava-se a submeter.

Em Esparta é que três tribos dórias melhor conseguiram concentrar seus efetivos pela expulsão dos indígenas da cidade e pela construção de uma sociedade à feição de um acampamento, acessível tão-somente aos dórios, sob a autoridade de dois reis, de um senado de vinte e oito membros e de uma assembleia mensal dos espartanos.

Escultura de um hoplita espartano. Museu arqueológico de Esparta.

Dedicada à guerra por suas origens e pela vontade de se manter, essa elite dória se dispensava de qualquer outra tarefa, lançando a da produção aos ombros dos vencidos, que reduziam à escravidão: a estes se chamou hilotas. Viviam sob o temor de uma repressão atroz. Essa organização codificou-a o tio de um rei, Licurgo, que, inspirando-se nas leis cretenses, fixou no rigor delas os princípios dessa aristocracia militar. Quando ela aumentou em número, os espartanos recomeçaram as invasões dórias - diante deles, os habitantes emigravam.

Para o Norte, seu impulso foi menos vigoroso. O militarismo espartano carecia de amplitude; a Tessália e a Beócia jamais lhe sentiram a ameaça. Por isso, o poeta Hesíodo, filho de um grego da Ásia que regressara à terra beócia, podia ali meditar sobre a justiça, celebrar as paciências do labor campesino e exigir da força a obediência a uma regra moral.

A guerra teve igualmente consequências de ordem social.

Diante da invasão dória, desmoronou-se a monarquia absoluta por ter sido impotente para salvar a sociedade micenense. Viram-se então famílias nobres se apossarem das terras, monopolizarem o direito de cidadania e organizarem as magistraturas das cidades. Os camponeses sofreram em toda parte pela avidez dessas famílias: na Ática eles cultivavam-lhes os domínios mediante um sexto da colheita.

RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964.  V. 1. p. 74-5.

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