"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Vida cotidiana em Constantinopla

Texto 1. Nas ruas de Constantinopla conviviam ricos e pobres, sem que houvesse diferenciação de locais para a construção de moradias. Era comum existirem quarteirões residenciais  elegantes rodeados por sobrados de madeira, ocupados por grupos médios ou ainda por pequenos casebres, pertencentes aos trabalhadores pobres. Contudo, a existência de muros altos em torno das moradias dos grupos privilegiados impedia o convívio entre pessoas de diferentes status sociais.


Mapa de Constantinopla. Desenhado pelo cartógrafo florentino Cristoforo Buondelmonti,1422.

Em Constantinopla, a vida urbana concentrava-se praticamente em torno de três grandes construções: a Igreja de Santa Sofia, o Hipódromo e o Palácio Imperial, que representavam respectivamente a religião, o povo e o poder do governo. Os prédios ficavam numa praça pública, bem próximos uns dos outros.

A Igreja de Santa Sofia, projetada e construída durante o reinado de Justiniano, entre 532 e 537, é uma das expressões máximas da arquitetura do Império Bizantino. Assim como grande parte das construções da civilização bizantina, as paredes internas de Santa Sofia apresentam ricas decorações de murais cobertos por mosaicos feitos com pedaços de vidro e pedra. Eles representam imagens de ícones religiosos e dos governantes. Há também mosaicos que trazem cenas da vida cotidiana e elementos naturais.

O Hipódromo era o local privilegiado de encontro entre os bizantinos. Nesse local aconteciam as corridas de biga, disputadas entre os partidos Verde e Azul. O primeiro representava as camadas populares, enquanto o último estava ligado à aristocracia. As roupas utilizadas durante os espetáculos no Hipódromo estavam entre os principais indicativos da condição social dos bizantinos.


O Palácio do Hipódromo. Século X, artista desconhecido.

Na maioria das vezes, o casamento dos nobres constituía um ato diplomático. Damas da sociedade eram enviadas a reinos estrangeiros distantes para desposar e "civilizar" nobres ricos e poderosos, ou seja, levar até eles a cultura helenística.

Alguns autores relatam que para o casamento de um imperador o processo era diferente. Era tradição que um grupo de funcionários reais saísse à procura de uma noiva por todo o território do império. As candidatas deveriam ser muito bonitas, discretas e possuir as medidas do busto, da cintura e dos pés de acordo com o gosto do rei.

A Igreja desempenhava um importante papel na educação das crianças. Tanto as famílias mais abastadas como as parcelas mais empobrecidas da sociedade tinham a oportunidade de mandar seus filhos para as escolas. O ensino religioso processava-se paralelamente ao laico. Nas escolas religiosas - com raras exceções - era permitido o estudo de escritores e filósofos pagãos. As crianças começavam a frequentar as escolas aos 6 anos de idade, e os filhos dos aristocratas faziam estudos mais aprofundados, equivalentes ao nível superior, por volta dos 18 ou 20 anos. Esses estudos incluíam a filosofia e conhecimentos gerais de matemática, geometria, música e astronomia.

Os segmentos mais pobres, no Império Bizantino, viviam melhor que os de outras sociedades cristãs da época. O desenvolvimento comercial, urbano e manufatureiro dos bizantinos propiciou maior estabilidade econômica para a população, aumentando a oferta de empregos.

Mesmo as camadas mais humildes de Constantinopla eram servidas por água abundante e canalizada. Esta era transportada por aquedutos e armazenada em muitas cisternas abertas e cobertas. Das cisternas, era encanada para fontes localizadas em esquinas de ruas e nas praças públicas, onde todos podiam servir-se gratuitamente. O esgoto era desviado para o mar por meio de um sofisticado sistema de drenagem subterrânea. A cidade dispunha de banhos públicos, acessíveis para homens e mulheres em horários diferentes, e o governo e a Igreja proporcionavam cuidados médicos e hospitalares para aqueles que não podiam pagar. BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. Das origens da humanidade à Reforma Religiosa na Europa. São Paulo: Moderna, 2010. p. 171-2.

Parábola dos trabalhadores da vinha. Evangelho bizantino, século XI, artista desconhecido.

Texto 2. O vestuário dos bizantinos era derivado ao mesmo tempo dos gregos, romanos e asiáticos. Durante oito séculos, o feitio quase não mudou. Homens e mulheres usavam túnicas com mangas e capas, tendo sido adotadas as calças (braccae) dos soldados romanos que atuaram no norte da Europa. O feitio característico, para ambos os sexos, mantinha um corte folgado para ocultar as formas do corpo. A moda bizantina reinou no mundo feudal da Idade Média Românica, pois Constantinopla era a Paris de então! O ouro dominou a escala de cores, ao lado do nobre púrpura, do vermelho, do marrom, do preto e do branco - cores observadas nos mosaicos bem conservados de Ravena que, aliás, não retratavam a classe popular. Os motivos de decoração eram formas diversas de animais e vegetais, além de símbolos cristãos como a cruz, o cordeiro e a vinha. Os tecidos nos circos eram brocados enriquecidos com bordados de prata, ouro e pedras preciosas. [...] Podem-se definir as ricas roupas da corte imperial como vestimentas hierárquicas, com um certo ar eclesiástico, nada de sedução nem muito menos de utilidade, demonstrando as influências do Oriente, com seu colorido forte, bem diferente da simplicidade dos velhos trajes romanos. A partir do século XIII. ocorreu uma orientalização maior nas roupas bizantinas. A vestimenta do clero continuava a ser ainda composta da dalmática, da stola e da paenula. [...] Capas, a paenula circular e a paladamentum semicircular, cobriam as túnicas compridas femininas. Um véu retangular tinha que cobrir sempre as cabeças das mulheres. Os decotes eram geralmente altos para os dois sexos. NERY, Marie Louise. A evolução da indumentária - subsídios para criação de figurinos. São Paulo: Senac, 2003. p. 55-6.

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