"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 4 de junho de 2016

Dos descobrimentos à colonização - Parte 4

[Consequências das iniciativas colonizadoras]


Vista de Sevilha, porta de entrada das Índias, ca. 1576-1600. Alonso Sánchez Coello

Assim que, a partir do século XVI, foram-se desenvolvendo as iniciativas colonizadoras de várias nações europeias, grandes transformações políticas, econômicas, sociais e culturais processaram-se na Europa. Ao mesmo tempo o eixo do comércio deslocou-se dos portos do Mediterrâneo para os do Atlântico. Em Lisboa, Sevilha, Cádiz os produtos e mercadorias coloniais eram comerciados e seguiam para os portos de Antuérpia, principal praça de mercado, Amsterdã, Bordeaux, Londres.

A enorme quantidade de ouro e de prata, introduzida na Europa pelos espanhóis, deu larga projeção política à Espanha permitindo-lhe durante um século custear guerras e comprar alianças com outros países.

Entretanto, começaram a esboçar-se acentuadas rivalidades entre as nações colonizadoras que resultariam em uma série de conflitos internacionais. Por outro lado, a grande quantidade de ouro e de prata derramando-se por toda a Europa provocou importantes modificações econômicas: a cunhagem de moedas, em larga escala, acarretou a desvalorização do dinheiro e uma assustadora alta de preços, particularmente dos produtos agrícolas.

A alta de preços* prejudicou sobretudo os nobres que, participando de questões e conflitos políticos, não controlavam a produção de suas terras; prejudicou também os trabalhadores do campo e da cidade cujos salários não acompanhavam o custo de vida. Beneficiaram-se todos aqueles que produziam, trocavam ou vendiam: os grandes proprietários de terras, os mestres-artesãos, os banqueiros, os comerciantes, isto é, a burguesia.

* A causa principal, quase única, da alta dos preços (que ninguém até agora mencionou) é a abundância do ouro e da prata existente hoje em dia neste reino em escala bem maior do que há quatrocentos anos.

Mas, diria alguém, de onde pode ter vindo, desde então, assim tanto ouro e tanta prata? [...] Os castelhanos, submetendo ao seu poder as novas terras ricas em ouro e prata, abarrotam a Espanha.

Ora, a Espanha que só vive graças à França, vendo-se inevitavelmente forçadas a vir buscar aqui cereais, linhos, tecidos, papel, corantes, livros, artefatos de madeira e todos os tipos de manufaturas, vai procurar para nós, nos confins do mundo, o ouro e a prata. (Jean Bodin, Da República)

Paralelamente a essas transformações econômicas e sociais, a Europa enriqueceu-se culturalmente, ampliando seus conhecimentos a respeito de astros, continentes, plantas até então desconhecidas vindas da América, a respeito de raças humanas e de civilizações até então ignoradas.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 188-9.

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