"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 12 de março de 2016

A crise do regime monárquico (1870-1889)

Uma série de fatores contribuiu, a partir de 1870, para a crise do regime monárquico. O mais importante foi o descontentamento causado pela disparidade entre a riqueza das províncias e sua participação política. Na Câmara dos Deputados predominava a região Nordeste, enquanto Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco lideravam a composição dos ministérios e a escolha do presidente do Conselho. Herança da tradição política que emergiu da construção do Estado nacional, esse privilégio contrastava, no fim do século XIX, com a importância econômica de São Paulo, centro mais dinâmico e rico da economia nacional, e do Rio Grande do Sul, com seu papel destacado no comércio interprovincial.

A disparidade gerou nas duas províncias um forte ressentimento contra o regime monárquico, amplificando o movimento republicano surgido na década de 70, com a proliferação de clubes e partidos republicanos. O movimento em favor da instituição da República, basicamente urbano, teve um eco significativo nas províncias com alto grau de urbanização, como Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A insatisfação crescente da população livre e pobre, que via sua miséria aumentar dia a dia com os altos impostos, também contribuiu para o desgaste do regime. Assim, diante de novas taxações, explodiram revoltas como a do Vintém e a do Quebra-Quilos, além de surgirem movimentos messiânicos como o dos Muckers. Nesse momento, depois da Guerra do Paraguai, o Exército surgia como uma nova força no cenário político. Respaldado por suas vitórias, sentia-se insatisfeito com a negligência por parte da monarquia em relação a seus interesses corporativos.


Bonde puxado por burro como era na época da Revolta do Vintém

Por fim, a abolição da escravidão, em 1888, tirou da monarquia o apoio dos barões do café do Rio de Janeiro, sua última base de sustentação econômica e política. Vítima de suas próprias contradições, o regime monárquico não foi capaz de oferecer resistência ao golpe desfechado em 1889, que instalou a República no país.

CAMPOS, Flávio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1993. p. 34.

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