"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Condições de vida dos homens livres na América colonial inglesa

Desembarque dos puritanos na América, Antonio Gisbert

Entre as massas trabalhadoras livres das colônias americanas a vida era dura, e a belicosidade generalizada. [...] Para os 70 por cento da população trabalhadora colonial livre as condições de vida eram melhores do que para seus irmãos de classe na Europa, e o grau de mobilidade social era de certo modo maior, mas os dois aspectos evidenciavam-se apenas num sentido relativo. No sentido absoluto, a vida era muito cara, pois os salários mal chegavam para levar mesmo a comida mais simples às bocas do produtor, sua mulher e seus filhos [...].

Nas cidades proliferava a prostituição, eram numerosos os mendigos, os abrigos de pobres viviam cheios, os cortiços já estavam presentes e as centenas de indivíduos que dependiam de ajuda pública para se manterem vivos tinham de usar um emblema denunciando sua condição "degradada".

Nas áreas rurais o passadio mais simples, o abrigo mais rude, a roupa mais grosseira eram a regra para quase todos os que labutavam com as próprias mãos. E nas cidades e nas fazendas os pobres livres trabalhavam como os pobres sempre trabalharam - muito e por muito tempo.

Os ricos viviam na América colonial como viveram em toda parte. Uma casa de cidade e de campo, centenas e milhares de acres; dezenas de empregados e/ou escravos; refeições lautas; festas incessantes; seda e cetim, veludo e pérolas; carruagens e baixela de ouro; peças da moda e música e livros; negócio, alianças, intrigas; altas e poderosas funções; e intensa preocupação com a conservação de tudo isso e em manter a "gentinha" em seu lugar.

Desembarque dos peregrinos em Plymouth, 1620, N. Currier

Essas diferenças eram a obra e a vontade de Deus, porque de outro modo não existiriam. Quem as põe em dúvida demonstra, portanto, sua falta de fé e de crença; quem as põe em dúvida pertence ao Diabo, e deve ser tratado de acordo com isso. Os pobres devem ser postos a trabalhar, e é o medo de morrer de fome que os fará trabalhar.

Quanto aos mendigos e desocupados, é bem verdade, escreve o Reverendo Cotton Mather em 1695 (Riquezas Permanentes), eles "vergonhosamente crescem entre nós, assim como os mendigos que nosso senhor Jesus Cristo expressamente nos proibiu de proteger". Daí sua palavra apostólica: "Que morram de fome".

APTEKHER, Herbert. Uma Nova História dos Estados Unidos Unidos: A Era Colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. p. 53-54.

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