"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O olhar de Debret sobre a sociedade escravista

No Rio de Janeiro e em todas as cidades do Brasil, é costume, durante o face a face do jantar conjugal, [...] a mulher se distrair com seus negrinhos, que substituem a família quase extinta dos pequenos carlindogues da Europa. Esses pestinhas, mimados até a idade de cinco ou seis anos, são em seguida entregues à tirania dos outros criados, que os domesticam a chicotadas e os formam, assim, para compartilhar com eles os tormentos e os desgostos do serviço. (Imagem 1)

(Imagem 1) O jantar, Jean-Baptiste Debret

[...] entretanto [o gongá], deixa de fora a ponta do chicote, um enorme açoite inteiramente de couro, instrumento de castigo com que os senhores ameaçavam seus escravos a toda hora. (Imagem 2)

(Imagem 2) Uma senhora brasileira em seu lar, Jean-Baptiste Debret

[...] a necessidade de manter na disciplina uma numerosa população de escravos forçou a legislação portuguesa a incluir, em seu código penal, o castigo da chibata, aplicável a todo escravo culpado de falta grave com respeito a seu senhor...

[...]

Assim, quase todo dia, entre nove e dez horas da manhã, vê-se sair a fila acorrentada de negros a serem castigados, amarrados dois a dois pelo braço, conduzidos sob a escolta da patrulha da polícia até o lugar indicado para a aplicação; pois há pelourinhos fincados em todas as praças mais frequentadas da cidade, para que se alternem os locais em que se aplica essa punição, depois da qual os açoitados são devolvidos à prisão. (Imagem 3)

(Imagem 3) Negro no tronco, Jean-Baptiste Debret

O desenho representa a loja opulenta de um sapateiro português, castigando seu operário escravo; sua mulher mulata, embora ocupada em aleitar o filho. não resiste ao prazer de ver um negro ser castigado. (Imagem 4)

(Imagem 4) Sapataria, Jean-Baptiste Debret

Textos de Jean-Baptiste Debret, extraídos de STRAUMANN, Patrick. (org.). Rio de Janeiro, cidade mestiça. Nascimento da imagem de uma nação. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 15, 61, 97 e 106.

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