"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 15 de novembro de 2015

As sociedades árticas

Vila de iglus, ca. 1865. Artista desconhecido

Entre o Império Russo e a América Setentrional, ao redor da bacia polar boreal, as explorações e o comércio quebraram o isolamento dos hiperbóreos, dos Randvoelker de Ratzel. Existem os que, pastores antes de tudo, tiram da rena o leite, a carne, a pele e aos quais a proximidade da floresta do Norte proporciona alguns recursos suplementares:  a este tipo pertencem os Paleasiatas, os Ostíacos, os Samoiedos, os Tunguzes, bem como os Atabascos da América. A maior parte, entretanto, pratica concomitantemente a criação da rena e a exploração dos recursos marítimos. O mais típico destes povos é o dos esquimós, cujo domínio se estende desde a Groenlândia até o Labrador: seu nomadismo ajustado ao ritmo das estações permite-lhes caçar o caribu, os animais fornecedores de peles e a fauna dos estreitos; manejam com habilidade o arpão, utilizam o trenó puxado por cães e o caiaque. Untam o corpo e fartam-se de comer; vivem enterrados no iglu temporário, feito de blocos de neve, durante o longo e tremendo inverno destas latitudes.

O estrangeiro veio atraído pelos animais que podem fornecer peles, gordura, óleo, couro, partes córneas e marfim. Leva às populações a arma de fogo, os utensílios metálicos, o petróleo que facilita o cozimento e a iluminação, a farinha, o açúcar e o chá, tornando a alimentação mais variada e mais agradável, e também o álcool e as doenças. Caça selvagemente, extermina certas espécies e perturba os gêneros de vida. Assim, no Labrador, os esquimós negligenciam a caça à foca, dão preferência ao caribu e à raposa polar, toma gosto pelos novos alimentos mas são dizimados pela varíola, pela tuberculose e pela sífilis; desaparecem do Alasca setentrional. As autoridades canadenses e norte-americanas, então, introduzem no Grande Norte a rena siberiana, que logo prolifera, consideram a possibilidade da criação do caribu e do almiscareiro no arquipélago polar; a Dinamarca chega mesmo a isolar a Groenlândia, para garantir a proteção do grupo mestiço de esquimós e escandinavos.


SCHNERB, Robert. O século XIX: as civilizações não-europeias; o limiar do século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 19-20. (História geral das civilizações, v. 14)

Nenhum comentário:

Postar um comentário