"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Bayle, um historiador imparcial

Retrato do escritor e filósofo francês Pierre Bayle, Louis Ferdinand Elle, o Jovem

Todos os que conhecem as leis da História estarão de acordo em que um historiador, se quiser cumprir fielmente as suas funções, deve despojar-se do espírito de adulação e do espírito de maledicência e colocar-se o mais possível na posição de um estóico, a quem nenhuma paixão agita. Insensível a todo o resto, só deve estar atento para os interesses da verdade, sacrificando a essa o ressentimento de uma injúria, a lembrança de um benefício e até mesmo o amor à pátria. Deve esquecer que está num certo país, que foi instruído numa certa comunhão, que é devedor de gratidão a este ou àquele, que tais e tais são seus progenitores ou seus amigos. Um historiador, no exercício de sua função, é como Melquisedeque, sem pai, sem mãe e sem genealogia. Se lhe perguntarem donde veio, deverá responder: não sou francês, nem inglês ou espanhol; sou habitante do mundo, não estou a serviço do imperador, nem do rei da França, mas somente a serviço da verdade; essa é a minha única rainha, só a ela prestei juramento de obediência.

BAYLE, Pierre. "Projeto de um dicionário crítico". In: CASSIRER, Ernest. A filosofia do Iluminismo. Campinas: Editora da Unicamp, 1992. p. 281.

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