"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 7 de março de 2015

O Magreb: O Marrocos independente

Dia de mercado fora dos muros de Tânger, Louis Comfort Tiffany

No extremo do mundo muçulmano, um tanto isolado pelas cadeias do Atlas, o Marrocos vivia à parte, submetido, não obstante, às vicissitudes do Islã mediterrânico. O Marrocos era particularmente sensível aos progressos dos cristãos. O acordo com os espanhóis em 1479 deixara aos portugueses o direito exclusivo sobre as costas da África, diante das Canárias. Os portugueses se haviam apoderado de Tânger, de Santa Cruz do Cabo de Suez (Agadir, 1504), de Safi (1508). Partindo de suas praças-fortes, realizavam incursões pelo interior e avançavam até Marráquexe. Havia tribos mouras a eles submetidas e encarregadas de seu reabastecimento em cereais. Em 1497, os espanhóis obtiveram dos portugueses a autorização de ocupar Melilha.

Este recuo do Islã provocou especial ressentimento no Marrocos, onde era intensa a vida religiosa. [...] Tal mundo encontrava-se extraordinariamente excitado e exercia grande influência sobre os fiéis a quem os chefes de zaúias ou xeques enviavam palavras de ordem.

O ódio dos sufis contra os cristãos orientava-se contra a dinastia watasida, incapaz de impedir os progressos dos infiéis, de tranquilizar o espírito dos muçulmanos por meio do corpo oficial dos ulemás. Os xeques sustentaram, contra os Watasidas, todas as revoltas de pretendentes, sendo estas apoiadas, ainda, pelos montanheses berberes insubmissos.

Coube ao Sul desempenhar o papel essencial. Os nômades lançaram-se sobre o Marrocos numa guerra santa. [...]

A dinastia atingiu o seu apogeu quando Ahmed Almansur (o Vitorioso) esmagou a cruzada portuguesa em Alcácer-Quebir (1578). [...]

Almansur manteve relações com a Europa. Na sua corte encontravam-se artesãos europeus, financistas judeus, negociantes cristãos. No seu exército eram numerosos os renegados espanhóis. [...]

Almansur localizara sua capital em Marráquexe, na porta do deserto, para melhor controlar os nômades. Queria conquistar o Sudão, a região do ouro, e criar um vasto império ligado pelas rotas saarianas [...].

[...]

A dinastia sadiana desaparece em 1654, depois que oito sultões, num total de onze, morreram assassinados. As tribos dos nômades e caravaneiros e os grupos de zaúias do Sul, mais intransigentes em matéria de fé, disputaram entre si o Marrocos. [...] Criou-se a dinastia alauita. [...]

O Marrocos, assim, conseguiu estabilizar a situação do Islã frente à civilização cristã no noroeste da África. [...]

MOUSNIER, Roland. Os Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 192-193 e 195. (História geral das civilizações, v. 10).

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