"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 1 de março de 2015

O Magreb: A maré dos nômades

Loja de ferreiro em Tânger, Edwin Lord Weeks

Durante os séculos XVI e XVII em todo o Magreb, desde o golfo de Gabes até o Atlântico, espalham-se, ao que parece, os nômades da fé. Foi, certamente, o progresso dos cristãos que provocou esta reação do Islã. Os nômades estariam sendo prejudicados pelo declínio do tráfico das caravanas saarianas, pois os portugueses, e em seguida seus sucessores holandeses, ingleses e franceses, haviam desviado para as costas da África negra o ouro e os escravos. Os nômades são atingidos pelas incursões de pilhagem das guarnições europeias lançadas sobre as costas e, talvez, pelas culturas de cereais destinadas ao comércio com os cristãos. Todo o mal provém dos detestados Rumis. O ódio religioso é atiçado nos centros religiosos dos oásis do sul, longe da corrupção das cidades costeiras, pelos santos marabus secundados por milhares de mouros espanhóis refugiados. E o ódio religioso dirige-se primeiramente contra os citadinos, os sultões e os corsários, cuja prosperidade é uma injúria ao empobrecimento dos nômades e que, em certo sentido, poderiam ser acusados de pactuar com o infiel, pois concordam em entregar os cativos mediante resgate, em comerciar com os cristãos, em lançar mão de seus serviços. Na Argélia e na Tunísia, os nômades fracassam na luta contra a artilharia dos turcos. No Marrocos, periodicamente, uma dinastia do sul apodera-se do governo, sedentariza-o, é forçada, por sua vez, a pactuar com o cristão, resvala pelo harém e é seguida por outra que toma igual caminho.

MOUSNIER, Roland. Os Séculos XVI e XVII. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 188-9. (História geral das civilizações, v. 10).

Nenhum comentário:

Postar um comentário