"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sou negro

Capoeira, Augustus Earle


Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh' alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs.

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso.

Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou.

Na minh' alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação.

TRINDADE, Solano. In: Suplemento literário do jornal O Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, n. 1 098, 7 maio 1988. p. 24.

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