"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 22 de abril de 2014

Investigações paleontológicas e arqueológicas no século XIX

Na primeira metade do século XIX, a febre da arqueologia leva a escavações que desenterraram pirâmides, tumbas e cidades inteiras, como Nínive ou Troia. Antigas linguagens são decifradas, nomes como os de Lepsius ou Champollion tornam-se populares no meio científico internacional. Simultaneamente, pesquisas paleontológicas alcançam resultados inesperados: gigantescos répteis do Jurássico dão as caras como fósseis e os seres humanos descobrem terem tido uma autêntica pré-história, repartida em Idades, até Darwin dar o golpe de misericórdia com as suas teorias.


Viagem do HMS Beagle nas costas da América do Sul, Conrad Martens. Darwin teorizou sobre a geologia e a extinção de mamíferos gigantes

Há ainda alguém que pense que somos o centro do universo?  

Datas
Paleontólogos e arqueólogos

1818
A entrada da pirâmide de Quéfren, no Egito, é encontrada por Giovanni Battista Bolzoni, explorador e arqueólogo italiano, que nos anos anteriores redescobriria, sob as areias do deserto, tumbas, templos e cidades do Antigo Egito.

1822
O britânico Gideon Mantell encontra na floresta Tilgate, no sul da Inglaterra, dentes fossilizados de um enorme réptil herbívoro, que batizará de Iguanodonte (dente de iguana) três anos depois. Era o primeiro dinossauro identificado.

1824
* Outro pesquisador britânico, o geólogo William Buckland, identifica um fóssil de maxilar de réptil carnívoro extinto, e denomina o animal de Megalosaurus.

* Fragmento de uma estela maior, a assim chamada “Pedra de Roseta (do nome do sítio arqueológico egípcio onde foi encontrada 25 anos antes) é decifrada pelo linguista e egiptólogo francês Jean-François Champollion. A interpretação de seus dizeres (um decreto do rei Ptolomeu V, do século II a.C., sobre o culto divino do soberano) abre as portas para a compreensão dos caracteres hieroglíficos do Antigo Egito.

1830
Combatendo o catastrofismo, que ligava as modificações terrestres a repetidas catástrofes acontecidas no espaço de uma história da Terra relativamente breve, segundo uma cronologia derivada da Bíblia, o geólogo escocês Charles Lyell sustenta a teoria do uniformitarismo, pela qual os eventos geológicos resultaram, e resultam, de processos lentos e graduais, a partir de leis naturais constantes. As ciências começam assim a superar os estreitos limites da cronologia bíblica.

1836
São publicados os resultados de anos de estudos sobre artefatos humanos pré-históricos realizados pelo arqueólogo Christian Jürgensen Thomsen, diretor do Museu Nacional de Dinamarca. A ele se deve a proposta do sistema das três idades (Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro) para a sua classificação.

1838
O orientalista britânico Henry Rawlinson interpreta e traduz a inscrição de Behistun, em persa antigo. A inscrição, de 15 metros de altura por 25 de largura, e posta a 100 metros de altura numa antiga estrada do atual Irã, traz uma declaração do rei Dario I da Pérsia, do século VI a.C. Pendurado no penhasco, foi o próprio Rawlinson quem transcreveu, três anos antes, o texto, cuja decifração será um marco na interpretação dos caracteres cuneiformes.

1842
Richard Owen, paleontólogo inglês, é o primeiro a usar o termo genérico dinossauro para a identificação destes enormes répteis pré-históricos.

1843
Cônsul em Mossul, no Império Otomano, o francês Paul Émile Botta começa a realizar escavações que lhe permitirão em breve a identificação da antiga cidade de Nínive, capital do Império assírio.

1844
A descoberta, no vale do rio Somme, na França, de utensílios em pedra no mesmo local em que se encontravam restos de animais extintos leva a aceitação definitiva da existência de seres humanos “primitivos”. A autoria do achado é do francês Jacques Boucher de Crèvecouer de Perthes.

1845
Regressa a Europa, após três anos de explorações e escavações no Egito, o lingüista e arqueólogo alemão Karl Lepsius. Os 15 mil artefatos que levou para Berlim lhe permitiram escrever uma obra em 12 volumes sobre sua viagem.

1859
O naturalista britânico Charles Darwin publica em Londres sua obra A origem das espécies: suas teorias sobre a evolução e a seleção natural oferecem uma releitura da história do homem e da natureza sem a tradicional ênfase antropocêntrica.

1873
Após anos de buscas e estudos, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann identifica, em suas escavações na região da Anatólia, a mítica cidade de Troia, celebrizada pela literatura de Homero. Entre outros vestígios, encontra também o que acredita ser o famoso tesouro do Rei Príamo.

SCORRONE, Marcello. No tempo de Peter Lund... paleontólogos e arqueólogos investigando o planeta. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 9 / nº 99 / Dezembro 2013. p. 68-69.

NOTA: O texto "Investigações paleontológicas e arqueológicas no século XIX" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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