"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A Núbia e os soberanos de Meroé

No Novo Império, o poder faraônico completou a submissão e a organização da Núbia em duas províncias, Uauat e Kush. As guarnições do faraó estão presentes até a fortaleza de Semnah na região da 4ª catarata. Composta de duas províncias, essa vasta colônia possui sua administração própria sob a direção de um governador, chamado “filho real de Kush”, verdadeiro vice-rei de amplos poderes. Os egípcios, após terem extraído riquezas múltiplas da Núbia também tomaram o hábito de recrutar pessoal. Certas tribos núbias fornecem os Medjai (do nome de uma etnia), recrutados como forças de policiamento. Os indígenas da Núbia, gradualmente aculturados e egipcianizados, tomam certos cuidados com relação a seus “colonizadores”.

Por volta de 950 a.C., Sheshonq I funda em Tanis, no delta oriental, a 22ª dinastia. Entretanto, no sul, sua autoridade não tem nenhum apoio. O reino é dividido em dois principados, dirigidos por governadores de província.

Não se sabe praticamente nada de Kashta, rei de Napata no século VIII a.C. Seu filho Pianky sucede-lhe por volta de 751 a.C. Enquanto a 22ª dinastia se envolve em conflitos internos, Pianky lidera uma sublevação e tenta uma campanha militar (por volta de 728), a fim de tomar o poder em Tebas. Consegue subir o vale do Nilo até Neferusy, perto de Hermópolis. Usurpa o título de faraó e funda a 25ª dinastia núbia. Após ter proclamado sua piedade para com o deus Amon em Tebas, prossegue sua campanha vitoriosa em direção a Mênfis e Heliópolis. Retornando à Núbia, em Napata, Pianky morre e é enterrado numa pirâmide. Durante esse tempo, os assírios invadiram o norte do Egito.

Pirâmides de Meroé.
Foto: B N Chagny

Os sucessores de Pianky no trono do faraó, Shabaka (por volta de 716), depois Taharqa (por volta de 690), não chegam a impor sua autoridade aos potentados locais. Montuemhat, prefeito de Tebas e membro do clero de Amon, exerce então uma autoridade uma autoridade sem divisão sobre toda a província de Tebas. Ao mesmo tempo, Taharqa deve enfrentar a potência militar de Assurbanipal, rei da Assíria; consegue manter seu poder até Mênfis, mas em 664 é vencido pelos assírios. Tebas é, então, pilhada. Taharqa e suas tropas recuam até Napata, enquanto, no delta, o príncipe egípcio Necao é mantido como simples governador de Mênfis sob tutela assíria.

Os príncipes de Napata desenvolvem na Núbia e até Meroé (na altura da quinta catarata) uma cultura herdada da tradição faraônica, mas que se alimenta doravante de raízes africanas.


SALLES, Catherine [dir.]. Larousse das civilizações antigas 1: dos faraós à fundação de Roma. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 106-107.

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