"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Islã no século XX (Parte III)

Fervor e petróleo no deserto


Símbolo do Islã, Produtor 

Na Arábia, a família Saud era, havia muito tempo, a protetora do wahhabismo, um credo islâmico puritano. Quem revigorou a fortuna da família no século XX foi o rei Ibn Saud, que na prática fundou a nova Arábia Saudita. Ele era um dos homens mais altos do reino, além de um guerreiro habilidoso. Andava de maneira lenta e digna e suas palavras prendiam a atenção. De acordo com uma interpretação liberal do Alcorão, mantinha quatro esposas, quatro concubinas favoritas e quatro "escravas prediletas". Havia um tipo de escravidão que persistia, com a concordância de Ibnm e um escravo chegou a tornar-se ministro da Fazenda durante seu reinado. A disciplina e o fervor religioso, de acordo com os preceitos do wahhabismo, também tinham a bênção do rei.

A Arábia Saudita, com sua grande extensão de areia em várias tonalidades, não teve valor econômico durante muito tempo. Após a descoberta do petróleo em 1938, a riqueza da nação aumentou, primeiro lentamente, e depois com rapidez. O fato de o país possuir as maiores reservas mundiais do recurso fez crescerem as tentações humanas contra as quais o ramo wahhabi do Islã diligentemente alertava. Mesmo envelhecido, o rei tentou deter o fluxo de licenciosidade que vinha do Ocidente. Até 1951, o futebol esteve banido e os estrangeiros que moravam no país eram proibidos de comprar bebidas alcoólicas.

De todas as nações árabes, a Arábia Saudita era a única aliada tradicional de Washington. Os dois países trabalhavam harmoniosamente, um fornecendo o petróleo, e o outro, proteção militar. Os Estados Unidos produziam cada vez menos o petróleo que consumiam e dependiam cada vez mais da Arábia Saudita. Lá, os norte-americanos residentes tinham de seguir, pelo menos aparentemente, os preceitos puritanos do Islã. Na década de 1980, praticamente não havia judeus entre os norte-americanos que viviam no país; os banhos de piscina mistos eram proibidos nos hotéis; e os membros das forças armadas norte-americanas concordaram em não celebrar missas de Natal nas bases. Tais concessões não pareciam suficientes aos olhos dos muçulmanos mais fervorosos, sempre conscientes de que eram eles os guardiões dos locais sagrados em Meca e Medina. Alguns dos mais veementes desaprovavam até mesmo o próprio governo, vindo a patrocinar terríveis atos de terrorismo.

Próximo post: O Islã no século XX (Parte IV): O terrorismo internacional

BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2011. p. 297-298.

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