"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Homens do sertão

Monumento aos Bandeirantes, Santana do Parnaíba, São Paulo

Eles [os bandeirantes] foram os piratas do sertão. Perambulavam pelos atalhos, pelos planaltos e pelas  planícies armados até os dentes, com seus sons de guerra e suas bandeiras desfraldadas. [...] À sua passagem restava apenas um rastro de cidades devastadas; velhos, mulheres e crianças passados a fio de espada; altares profanados, sangue, lágrimas e chamas. [...] Foram chamados de "raça de gigantes" - e, com certeza, eram sujeitos intrépidos e indomáveis. São tidos como os principais responsáveis pela expansão territorial do Brasil - e não há dúvida que foram. Embora tenham sido heróis brasileiros, se tornaram também os maiores criminosos de seu tempo. [...]

Caçador de esmeraldas, Antônio Parreiras

Transformaram sua capital, São Paulo, num dos maiores centros do escravagismo indígena de todo o continente. [...]

Por que justamente São Paulo? Porque a cidade fundada pelos jesuítas estava no centro das rotas para o sertão, porque os carijós do litoral e os guaranis do Paraguai estavam próximos e eram presa fácil e, acima de tudo, porque São Paulo nascera pobre. "Buscar o remédio para sua pobreza" - assim os paulistas explicavam o motivo que os impelia aos rigores do sertão em busca de "peças". [...]

O bandeirismo tornou-se um negócio cuja técnica era passada de pai para filho - inúmeros adolescentes iam para o sertão e muitas bandeiras eram empresas familiares unindo pais, filhos, tios, cunhados e genros. Embora promovidas por brancos, as bandeiras não teriam sobrevivido no sertão não fossem as técnicas indígenas. Na verdade, mais pareciam tropa tupiniquim do que patrulha europeia: avançavam em fila indiana, utilizavam canoas de tronco, sobreviviam à base de mel e palmito (quase extinguindo colmeias e palmiteiros). O grosso da tropa era de índios, escravos ou não. [...]

ROSA, Carlos Mendes. História do Brasil. In: Folha de S. Paulo. São Paulo: Publifolha, 1997. p. 41-2.

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