"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Que ódio é esse?

Teu Cristo é judeu; teu carro, japonês; tua pizza, italiana; tua democracia, grega; teu café, brasileiro; tuas férias são turcas; teus números, árabes; teu alfabeto é latino. E teu vizinho é tão somente estrangeiro? 

[De um outdoor afixado no centro da cidade de Frankfurt, na Alemanha, no início dos anos 90, denunciando o racismo e a discriminação contra os estrangeiros naquele país.] Citado em: SALEM, Helena. As tribos do mal: o neonazismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Atual, 1995. p. 83.

Manifestação neonazista em Los Angeles (EUA), em 2010

Após assistir, ainda muito recentemente em termos históricos, à avalanche de xenofobia e racismo que dominou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial e nos anos que a precederam, sob a hegemonia nazi-fascista; após atravessar os séculos de intolerância religiosa, que resultou nos processos da Inquisição contra todos aqueles que discordavam dos cânones da Igreja Católica na Idade Média e na Moderna, o mundo depara hoje, mais uma vez com novas ondas de racismo, antissemitismo e nacionalismo xenófobo (do grego xenos, “estrangeiro”, e phobos, “fobia”, “horror”; ou seja, aquele tem ódio aos estrangeiros). Mesmo em alguns países, como o Brasil, onde essas ideologias nunca chegaram a ter presença expressiva, vê-se o seu renascimento.


Verdade que os tempos são outros. Há diferenças de tempo e espaço – entre os nazistas de ontem e os neonazistas de hoje; entre os inquisidores medievais que jogavam os dissidentes na fogueira e os fanáticos encapuzados da Ku Klux Klan que lançaram seu terror contra negros e comunistas nos Estados Unidos, nos anos 1960. Diferentes também entre os integralistas que atuavam na política brasileira dos anos 1930 e grupos como os skinheads/Carecas do Subúrbio de agora. (...)

(...) o contingente de excluídos se diversificou: aos judeus somaram-se os turcos, os árabes, os africanos e toda a mão de obra barata procedente do Terceiro Mundo que buscou a rica Europa e os Estados Unidos como mercado de trabalho nas últimas décadas.

No Brasil, os preconceitos dos neonazistas e neofascistas foram adaptados à realidade local: em vez dos turcos, o alvo são os nordestinos – a mão de obra miserável que migra em massa para o Sul do país -, incluindo também os negros e os homossexuais, além dos judeus.

Qual a dimensão efetiva desse ressurgimento do nazi-fascismo no mundo? O que ele significa? Quem são esses enlouquecidos skinheads que, como os inquisidores medievais ou a SS nazistas dos fornos crematórios, queimam hoje, imigrantes turcos na Alemanha, assassinam africanos na Itália, rejeitando o pobre, o diferente? E no Brasil, como esses movimentos se organizam? (...) SALEM, Helena. As tribos do mal: o neonazismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Atual, 1995. p. 1-3.

“Quanto mais penso nos problemas que nos afligem, tanto mais me convenço de que devemos tomar a Ironia e a Piedade por conselheiras e juízas, como os antigos egípcios, que invocavam a proteção da deusa Ísis e da deusa Néftis sobre os seus mortos. Tanto a Ironia quanto a Piedade são boas conselheiras. A primeira, com seus sorrisos, torna a vida agradável; a segunda santifica a vida com suas lágrimas. A Ironia que invoco não é uma divindade cruel. Não zomba do amor nem da beleza. É gentil e bondosa. Seu júbilo nos desarma, e é ela quem nos ensina a rir dos malfeitores e dos tolos, pelos quais, se não fosse por ela, nossa fraqueza nos levaria a sentir desprezo e ódio”. (Hendrik Willem van Loon)

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