"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A vida urbana na África negra

A cidade sagrada de Tombuctu

Uma arquitetura simples na forma, mas complexa na preparação, encontrava-se em toda a África subsaariana. Na cidade ou no campo, era comum se encontrarem construções nas quais se misturavam barro e dendê. Em razão do uso de materiais pouco resistentes, numerosos testemunhos urbanísticos desapareceram, sem deixar marcas. Além disso, desastres de natureza variada arruinaram cidades-Estados e impérios, sem contar que o colonialismo desfigurou várias cidades, imprimindo-lhes a marca de sua dominação. Escavações arqueológicas vêm revelando, contudo, vestígios e testemunhos de centros urbanos importantes na região do Congo e do Chade, entre outros. [...]

Várias cidades ficaram na história por sua importância. [...] Benin foi descrita por um viajante do século XVIII como sendo maior do que Amsterdã, na Holanda. Possuía 15 mil habitantes, tinha seis quilômetros de diâmetro e, dizem alguns, pode ter sido, na sua origem, um grande centro religioso. [...] Ifé, na borda da floresta, ficou conhecida por sua pavimentação com tijolos de barro e esculturas de terra cozida que remontam ao século XII. As grandes cidades iorubas, elas, também, capitais, parecem ter tido tradições políticas muito fortes. Isto ocorria porque seus habitantes formavam unidades militares. Nelas, um fosso separava o palácio dos bairros, onde as pessoas viviam em casas à volta de um pátio interno, às vezes tendo ao centro um poço ou cisterna. [...] As cidades da savana tinham no centro palácios e mesquitas, algumas delas como a de Tombuctu. [...] Tais edifícios eram cercados de quarteirões residenciais, solidamente construídos, onde as casas de jurisconsultos e estudiosos possuíam dois andares. Para além delas, estendiam-se os barracos dos pobres, agrupados à sombra das muralhas que protegiam as cidades do mundo exterior. [...]

A ordem era mantida por meio de sanções penais que iam até o exílio ou mesmo a morte. Tribunais, regras de conduta, códigos e procedimentos judiciários cuja aplicação era feita por magistrados cuidadosamente escolhidos garantiam o bem-estar e a segurança da comunidade. Quanto à vida cultural, essa era muito variada, incluindo dança, canto, poesia, astronomia, arte das vestimentas, arquitetura, pintura, escultura e jogos. A organização dos estados, a estrutura de poderes e suas respectivas relações, os graus de refinamento de técnicas comerciais, financeiras, monetárias revelam o alto nível de desenvolvimento social desses povos.

PRIORE, Mary Del; VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África atlântica. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2004. p. 18-21.

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