"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O passado à deriva com o aquecimento global

Ruínas do templo de Wat Ya Chai Mongkon, no Parque Histórico de Ayutthaya, na Tailândia.

Por volta do século VII, a cidade portuária de Alexandria, no Egito, sofreu uma perda irreparável: um incêndio devastou o acervo de sua biblioteca, que pode ter abrigado até 700 mil rolos de papiro com as obras mais importantes da Antiguidade. Em pleno século XXI, a cidade passa por uma nova ameaça. Desta vez, provocada pelas recentes mudanças climáticas: a erosão costeira causada pela elevação do nível do mar pode destruir os mais importantes monumentos históricos de lá. Entre eles, os da cidadela de Qalt Bey, do século XV, onde está localizado um forte construído sobre a fundação do famoso farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Segundo a publicação The Atlas of Climate Change ('O Atlas da Mudança Climática'), divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no fim do ano passado, Alexandria é um entre dezenas de outros locais históricos ameaçados pelo aquecimento global. "As mudanças climáticas estão causando impacto em todos os aspectos, naturais ou humanos, incluindo o patrimônio histórico e cultural", diz o diretor-geral da Unesco (divisão da ONU que cuida da Educação, Ciência e Cultura), Koichiro Matsuura. Segundo ele, a proteção desses locais tem que se tornar uma preocupação intergovernamental urgente.

Se nada for feito, outros pontos históricos poderão sumir do mapa. No nordeste da Tailândia, inundações já danificaram as ruínas de Ayutthaya, capital do país do século XIV ao século XVIII. E a ameaça não vem apenas do aumento do nível das águas do mar, de lagos e de rios. A mesquita Chinguetti, na Mauritânia, está ameaçada de ser engolfada pela desertificação provocada pelas mudanças no clima. Nem os países ricos estão livres, já que as inundações na Europa, em 2002, atingiram antigos museus e bibliotecas, danificando cerca de 500 mil livros e documentos.

CAVALCANTI, Rodrigo. O passado à deriva com o aquecimento global. In: Revista Aventuras na História. ed. 44, abr. 2007.

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