"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 4 de março de 2011

O corpo na História

A grande odalisca, Jean-Auguste-Dominique Ingres

A história do corpo da "bela mulher" não se reduz a uma trajetória que partiria do gordo para chegar ao magro. É verdade que todas as sociedades subnutridas admiram a obesidade [...].

Característica de uma sociedade de abundância que considera a gordura "ruim" e a obesidade "vulgar", a estética da magreza é imposta pelo sistema da mídia, que intima as mulheres a seguir dieta e fazer ginásticas sempre novas: aeróbica, aeroginástica, antiginástica, [...] musculação, alongamento, aeróbica turbo etc [...]

Esse culto do próprio corpo exige sacrifícios em primeiro lugar financeiros (proporcionalmente, gasta-se menos em roupas e mais para "manter" a aparência); a seguir éticos, visto que os meios de comunicação nos repetem que "a pessoa tem o corpo que merece", o que leva a um novo sentido de responsabilidade. Esse corpo a ser produzido, desnudado, na praia, deve estar de acordo com os cânones do momento.

As duas namoradas, Henri de Toulose-Lautrec

É o esporte que deve nos aproximar desses cânones. As Olimpíadas, que surgiram por volta de 800 a.C. e foram suspensas por Teodósio em 394, mostravam práticas esportivas marcadas pela violência. O esporte atual - bem como a própria palavra - nos vem da Inglaterra. Thomas Arnold o introduziu nas escolas públicas por volta de 1830, sendo que um de seus objetivos era canalizar - socializar - a violência. Para Pierre de Coubertin, que em 1896 organizou as primeiras Olimpíadas modernas, o esporte deve contribuir para a formação e o autodomínio do indivíduo. Nos anos 1920, "a nobreza" do esporte se liga a seu caráter "desinteressado"; o dinheiro macularia sua pureza: é a época do amadorismo. [...] A partir dos anos 1920, o ardor competitivo e a invasão de interesses financeiros levaram a um movimento de irresistível profissionalização. A partir daí, o esporte é dominado por um pleno poder: o financeiro, o médico e o mediático. O profissional deixa de ter praticamente qualquer vida privada: o nutricionista, o fisioterapeuta, o cardiologista etc. se encarregam de seu corpo para mantê-lo em forma, sob a coordenação do treinador, que se empenha em modelar uma personalidade que "passe" bem pelos meios de comunicação.

Baseado em: VINCENT, Gérard. Uma história do segredo? In: PROST, Antoine, VINCENT, Gérard. (orgs.). História da vida privada. 5: da Primeira Guerra a nossos dias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 309-313.

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