"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 11 de março de 2011

Festas e tradições populares na época dos reis absolutistas

Os provérbios flamengos, Pieter Bruegel, o Velho

A agitação intelectual e artística que marcou a Europa nos séculos XVI e XVII foi, em grande parte, um movimento das elites. Nas camadas populares persistiam outras formas de manifestação cultural, várias delas baseadas em antigas tradições.

Embora essas tradições variassem de acordo com a região e o grupo social em que ocorriam, elas continham elementos comuns. Um deles é a importância dos lugares onde as pessoas pudessem se reunir. Isso tanto nas cidades quanto no campo. A igreja, por exemplo, era um importante ponto de encontro, e os sermões do padre atraíam grandes contingentes. Nas tabernas e estalagens também se realizavam jogos e espetáculos de música, dança, malabarismo.


Interior de taverna, David Teniers

Nas cidades, por sua vez, as praças serviam de palco para a apresentação de toda sorte de artistas itinerantes: bufões (palhaços), malabaristas, acrobatas, atores, menestréis, curandeiros e vendedores de remédios disputavam a atenção da multidão ao lado de pregadores religiosos.

As festas estavam entre as atividades que mais empolgavam a população. Comemoravam-se casamentos, batizados, datas cristãs (como a Páscoa e o Natal) e pagãs (como o solstício de verão). Os festejos do carnaval eram os mais esperados do ano, estendendo-se muitas vezes de janeiro até a quaresma. Eram dias de excesso, de muita comida e bebida, em que as ruas ficavam lotadas de homens e mulheres mascarados, entregues a brincadeiras, danças, "batalhas" estilizadas.

As antigas feiras medievais conservaram sua importância; além de centros de comércio, elas eram locais de diversão. Havia diversas competições - jogos de malha, corrida de cavalo, rinhas de galo, campeonatos de arco-e-flecha - e exibições artísticas com animais adestrados, acrobacias e pantomimas. Algumas feiras duravam dias ou semanas.

Outra característica da cultura popular eram as histórias, muitas das delas narradas por contadores profissionais, encenadas por atores em praça pública ou cantadas por poetas nos bares e tabernas. Os atores encenavam dramas amorosos, peças cômicas ou edificantes, como as sobre a vida dos santos ou passagens bíblicas. As canções e baladas cantadas pelos menestréis contavam lendas e aventuras de heróis ou satirizavam os poderosos da época. Muitas dessas histórias foram registradas por estudiosos nos séculos XVIII e XIX e, transformadas, chegaram até nós sob a forma dos "contos de fadas" que ouvimos na infância. Chapeuzinho Vermelho e João e Maria são dois exemplos dessas histórias.

Às vezes as histórias ou os poemas eram impressos em grandes folhas de papel e colados em muros ou paredes de locais públicos. Ao longo dos séculos XVI e XVII, observou-se um crescimento no número de pessoas alfabetizadas, o que corresponde a uma disseminação de folhetos e livros populares, vendidos em feiras e em praças por mascates.No século XVII surgiram panfletos de cunho político, sobretudo na Inglaterra e na França.

Muitas vezes entendidas como desafios à ordem pública, as festas e tradições populares sofreram constante repressão por parte das autoridades e da Igreja. 

PILETTI, Nelson e PILETTI, Claudino. História e vida integrada. São Paulo: Ática, 2007. p. 18.

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