"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Contribuições da colonização alemã no Brasil

A ceifa alemã, Pedro Weingärtner


Em 1824, poucos anos após o governo ter introduzido os primeiros imigrantes em Nova Friburgo e no Rio de Janeiro, começou, também por incentivo do governo, a colonização de certas áreas do Rio Grande do Sul por imigrantes alemães. O motivo era povoar e desenvolver zonas ainda não colonizadas. A primeira colônia fundada foi a de São Leopoldo. Partindo de São Leopoldo, os colonos foram-se estabelecendo inicialmente nos vales dos rios Sinos, do Jacuí e do Caí. Foi esta a zona mais importante da colonização alemã.


Chegada dos alemães ao Brasil, Artista desconhecido

Ao chegarem, os colonos recebiam um lote por família: os lotes eram pequenos, mais ou menos de 220 metros de largura por 3.300 de comprimento. Nestes lotes os colonos plantavam o que precisavam para viver, e quem trabalhava nas lavouras era o próprio dono da terra e sua família. A necessidade de os colonos se adaptarem a um país inteiramente diverso de seu país de origem fez com que eles adotassem uma série de costumes novos. Aos poucos foram-se formando núcleos de colonização com traços típicos alemães ao lado de traços tipicamente brasileiros. O ajuste dos colonos ao novo meio exigiu, entre outras, modificações na alimentação, nas técnicas agrícolas, nas roupas, nas casas.

Colônia Dona Francisca (Joinville), 1866. Foto de Johann Otto Louis Niemeyer 

Assim é que o pão de milho substituiu a princípio o pão de centeio, e a mandioca, o cará, o inhame e o feijão substituíram a batata, principal alimento dos alemães. Os imigrantes passaram a preparar a terra pelo método indígena da coivara, e a trabalhar o solo com a enxada, em lugar do arado a que estavam acostumados na Europa. Vencidas as primeiras dificuldades, os colonos iniciaram o plantio da batata e do centeio, alimentos de sua preferência. Começou a produção de vários tipos de linguiças e de carnes defumadas, de leite, manteiga e queijos. A cozinha dos imigrantes acabou juntando pratos brasileiros a pratos alemães; a bebida gaúcha, o mate chimarrão, difundiu-se rapidamente entre os colonos e tornou-se tão importante quanto a bebida predileta dos alemães: a cerveja.


Imigrantes alemães e luxemburgueses na colônia Santa Leopoldina, Província do Espírito Santo, 1875. Foto de Richard Dietze

As primeiras casas foram ranchos construídos de taipa e cobertos de sapé, à moda cabocla. Depois, à medida que os colonos melhoravam de situação, iam surgindo casas de madeira e, mais tarde, de tijolos, lembrando casas típicas alemãs: chaminé do lado de fora da cozinha, telhado construído em ângulo agudo, sótão. Modificaram-se, porém, de acordo com o clima quente da região: o porão, que serve para isolar as casas da umidade, nos climas frios, foi eliminado, e em algumas casas, sobretudo nas de madeira, surgiu a varanda, que permite melhor ventilação dos cômodos.

Os trajes regionais típicos e as roupas de lã acabaram sendo abandonadas por causa do clima e por serem caros; os colonos adotaram rapidamente roupas feitas de algodão ou de brim e de chita.


Menina de Blumenbekränzte em Nova Veneza, Pedro Weingärtner 

Embora o governo brasileiro não tivesse podido ajudar os colonos como devia, por falta de recursos e por estar empenhado em sufocar a Revolução Farroupilha, a colonização alemã avançou lentamente. Em 1829 foi fundada a colônia de Mafra (Santa Catarina) e, a partir de 1835, alguns alemães começaram a penetrar o vale do Itajaí, onde mais tarde foram fundados núcleos como Blumenau e Joinville, que deram grande impulso à região.

Escola alemã em Blumenau. Fotógrafo desconhecido

A partir do governo de D. Pedro II, com a vinda de grupos maiores de imigrantes, a colonização alemã alcançou grande importância; instalou-se o progresso na indústria, representado por serrarias, moinhos, cortumes, fábricas de ferramentas, de artefatos de couro, calçados, arreios, selas, cervejarias e indústrias de laticínios, que ainda hoje contribuem de forma relevante para o progresso econômico do Brasil.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História do Brasil: da independência aos nossos dias. São Paulo: Nacional, 1980.

Nenhum comentário:

Postar um comentário